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terça-feira, 28 de maio de 2013

Educação, Internet e Realidade Aumentada – O fim da aula tradicional?

O modelo de aula baseado na palestra mono-direcional, que emana do professor, fonte de todo o conhecimento, para o aluno, receptor passivo, não serve mais para o estudo superior. Embora seja interessante em certos ambientes, para certos assuntos, no dia a dia das faculdades e universidades não faz mais sentido. Não faz sentido por algumas razões:

1. O aluno não é passivo – ao contrário do ensino para crianças (pedagogia) em que existe uma diferença abismal de conhecimento entre professor e aluno, no ensino para adultos (andragogia) os alunos possuem vivências e ricos mundos interiores, não aceitando simplesmente o papel de sujeitos passivos do processo ensino-aprendizagem. O aluno questiona, mesmo que internamente, e precisa que o conteúdo seja contextualizado e explicado no sentido da utilidade para si



2. O tempo de atenção do aluno diminuiu – costumava-se dizer que o aluno aguenta 20 minutos antes de perder a atenção em um tópico, ou seja, que o professor teria até 20 minutos para interessar o aluno ou perdê-lo. Evidências empíricas sugerem que esse período reduziu-se para menos de 5 minutos. É só observar os videos do Youtube – poucos ultrapassam 5 minutos. É necessário que o professor contextualize porque aquele assunto interessa, como será cobrado e de que forma será aplicado. 


3. Hoje temos a competição da internet móvel. Seja Wi-fi, 3g ou 4g, os alunos estão conectados durante as aulas. Salvo em dias de prova, quando recolho os celulares, não admito que vejamos tal ferramenta como adversária do processo de ensino-aprendizagem, mas sim, como aliados. Uma vez, em uma aula de marketing, falei como Picasso, após ficar muito famoso, começou a brincar com a fama e fazer obras cada vez menos elaboradas e divertia-se em ver como os críticos justificavam suas pinturas com argumentos estapafúrdios. Citei “Dom Quixote” e como foi vendida em um leilão por alguns milhões. Arrisquei rabiscar a obra no quadro, para ilustrar a simplicidade do quadro. Pois uma aluna com laptop pesquisou no Google, encontrou a notícia sobre a venda do quadro e mostrou para a turma exclamando “Ele tem razão!”. Agora, imagine se eu tivesse errado o o nome do quadro, ou o formato... Os alunos possuem uma ferramenta nas mãos para comprovar ou contestar o que lhes ensinamos imediatamente. Alguns professores não gostam disso, mas é inevitável. (Em tempo: a obra de Picasso é genial. O quadro tem algo de especial. Mas usei uma obra famosa e não tradicionalmente bonita do pintor para ilustrar meu ponto em sala de aula. Não me condenem como um total ignorante por meu uso do quadro como recurso didático).



4. As ferramentas multimídia são justamente isso: multi – meios. Usam cores, animações, videos, música e sons e textos para engajar o observador. São, por conseguinte, muito mais interessantes que um palestrante médio falando sobre um assunto desinteressante.

Vou além e afirmo: as ferramentas eletrônicas estão aqui para ficar. O processo de ensino-aprendizagem pode ocorrer com sua ajuda ou brigando contra seu uso. Sempre conclamo meus alunos a buscar o assunto tratado na internet, em sites que lhes recomendo ou em documentários ou videos rápidos no Youtube. O aluno agora, seja rebelde ou educado, quer ser agente ativo de sua descoberta. Se o assunto é chato, admita que é, peça cooperação e indique outras fontes de conhecimento – você verá como os alunos rapidamente mudam de postura. Se o assunto é interessante, chame os alunos a contribuírem com suas pesquisas.
A agora surge no horizonte uma ferramenta ainda mais rápida para pesquisas e integração do mundo real com o digital: a realidade aumentada. 


Vários aplicativos para smartphones e o recém lançado Google Glass superpõem uma camada de informações obre a imagem captada pela câmera do aparelho. Ou seja, em breve, os alunos poderão verificar as informações que lançamos no quadro ou em transparências sem mover os olhos do quadro. E nos contestar...
Logo, vejo que nosso futuro como professores reside menos em transmitir informação, mas em ajudar o aluno a filtrar a boa informação da ruim. Ajudá-los a identificar as fontes confiáveis das espúrias e oferecer contrapontos às opiniões prontas que os agentes do marketing e da doutrinação política certamente tentarão inserir nessas ferramentas.
O primeiro passo, colegas, é utilizar essas ferramentas e aprender a dominá-las. Está em nossas mãos ganhar ou perder nossos alunos digitais.




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